Este chapéu não é meu, livro do canadense Jon Klassen, conta a historia de um peixinho que comete um delito. Logo no início temos a confissão: “Este chapéu não é meu, acabei de roubar”. Pronto! Nossos pequenos leitores querem saber o que vai acontecer e não desgrudam os olhos do livro até o final. E depois voltam e leem de novo, e de novo, e de novo….
Klassen disse em uma entrevista ao jornal The Guardian que no momento em que pensou a história decidiu que seria um monólogo. Sua inspiração foi o conto “The Tell-Tale Heart” (O Coração Delator)” 1843 , de Edgar Allan Poe. Da mesma forma que o narrador de Poe, o nosso peixinho quer nos convencer que está tudo bem, mesmo após ter cometido um delito.
Klassen queria dar expressividade aos personagens e pensou como seria um “peixinho culpado”? Resolveu a questão simbolicamente, através do olhar. Um recurso simples mas com grande efeito. Os olhos dos personagens sintetizam o que eles sentem. O peixinho, preocupado; o caranguejo, ressabiado; o grande peixe, zangado!
Este chapéu não é meu é um livro álbum onde palavras e imagens se contradizem. O peixinho, que é o narrador da história, diz que acabou de roubar o chapéu mas que o dono não vai descobrir tão cedo. A imagem nos mostra que não é bem assim. Esse recurso enriquece a imaginação do leitor, que já sabe antecipadamente pelas imagens o que acontece de verdade e o que o peixinho acha que está acontecendo. A vontade do leitor é de avisar ao pequeno peixinho o que está acontecendo.
O peixinho tenta nos convencer (e a convencer a si mesmo) que tudo está bem, mesmo sabendo que o que fez pode não ser legal. Ele nos confidencia de que já sabe aonde vai se esconder, que ali ninguém vai encontrá-lo. Esse lugar, cheio de plantas altas, com folhas que tem formato de peixe, parece-lhe o lugar ideal. No meio do caminho encontra um caranguejo que promete não contar que o viu. Ele entra nesse esconderijo e logo atrás surge o grande peixe. Será que ele encontrará o peixinho?
A forma como algumas crianças entendem o livro e resolvem a história é muito boa. Algumas afirmam que o peixinho escapou e que está escondido entre as folhagens, outros veem na repentina ausência do narrador o seu trágico fim. Na entrevista para o jornal “The Guardian”, Klassen diz que no momento em que você vê pela primeira vez a imagem do dono do chapéu você sabe o que vai acontecer. Você sabe?
Este Chapéu não é meu. John Klassen, editora WMF Martins Fontes.
Deu vontade de sair correndo para a primeira livraria e comprar o livro. Amei!